domingo, 31 de maio de 2009


Instabilidade econômica pode afetar relacionamento entre casais

Ansiedade e irritação são causadas pela insegurança quanto ao futuro

Tríssia Ordovás Sartori

Crise financeira vem devastando casais

Para quem acompanha de perto a economia, os últimos meses foram cheios de números assustadores. Entre maio e novembro de 2008, por exemplo, a Bovespa teve queda de 59%. Foram 110 dias entre o melhor e o pior momento da bolsa de valores brasileira, causando transtornos que são sentidos até hoje. O desemprego aumentou, e as empresas passaram a tomar medidas drásticas para manter o quadro funcional. Mas a crise financeira não se limitou ao âmbito econômico ou de trabalho. Como consequência, instalou-se também nos relacionamentos e conseguiu ser devastadora entre muitos casais.

Assessor de investimento de uma financeira com sede em Caxias do Sul, William Teixeira relata que, no auge da crise, muitos operadores sofreram por causa da situação.

– É muito difícil não levar o problema para casa. Na época forte da crise, no fim do pregão, a gente saía para relaxar e não chegar tão tenso em casa – relata ele, que tem namorada e costuma acompanhar o desempenho das bolsas por canais de notícias.

Experiências como a de Teixeira são mais comuns do que se possa imaginar, mesmo para quem está longe desse tipo de trabalho. Na Espanha, um estudo revelou que quase um em cada quatro homens considera que a crise afeta sua vida sentimental. Ou seja, 23% afirmam que a crise está interferindo em seus encontros amorosos e os obrigando a reduzir gastos nas atividades relacionadas com busca de pares. Por exemplo: é preciso dizer adeus às cervejinhas das sextas-feiras, sacrificar um dia de “pegação” noturna ou reduzir os jantares românticos em restaurantes.

Na avaliação da psicóloga Suzymara Trintinaglia, as pessoas vivem em uma “sociedade exibicionista”, em que se prioriza o “ter” em vez do “ser”. Assim, uma baixa na economia acarreta na diminuição desses “paliativos para a felicidade”, como as compras, os bens de consumo e os cuidados com a aparência. Com a crise, elas passam a viver a insegurança do futuro, ficam mais ansiosas e irritadas.

– A crise mais exacerbada teve um efeito significativo na vida das pessoas. Se a mulher não pode fazer o que fazia antes, como arrumar o cabelo, por exemplo, pode interferir na relação conjugal – explica.

Como as mulheres normalmente fazem as compras da casa, percebem melhor esse transtorno. Os homens, por sua vez, considerados “provedores”, podem ser afetados de forma diferente, como a diminuição da libido. É aí que a crise financeira afeta ainda o desempenho sexual.

Uma pesquisa feita com 5 mil pessoas nos EUA mostrou que o sexo de 62% delas piorou. No Canadá, um estudo realizado em 2008 com 191 homens e mulheres mostrou que 12% tiveram o casamento desfeito por “motivos financeiros” nos últimos seis meses.

A tensão gerada pela instabilidade e pelas perdas que surgem com a queda das bolsas interfere no funcionamento do organismo como um todo. Com o pensamento fixo nas cotações 24 horas por dia, alguns registram problemas de libido. O urologista Gustavo Piazza Toniazzo percebe que a crise afetou, de um modo geral, pessoas em todos os níveis de escolaridade. Pelos atendimentos realizados no consultório, ele observa que os homens estão se sentindo mais inseguros do ponto de vista emocional, o que acaba se traduzindo em baixa do desempenho sexual e em problemas de ereção.

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